Os japoneses estão espantados com o nosso espanto e parecem não entender o porquê da imprensa internacional ter dado tanto destaque para a história sobre os milhares de cidadãos que acharam, nos escombros da área atingida pelo tsunami, o equivalente a R$ 125 milhões em dinheiro vivo e entregaram para a polícia.
Dinheiro, barras de ouro... tudo isso encontrado em 5.700 cofres de casas e empresas destruídas pelas ondas gigantes. Para se ter uma idéia, em apenas um cofre havia o equivalente a 1 milhão e meio de reais. Fora as carteiras e bolsas recheadas de ienes, deixadas para trás na correria da fuga ou que pertenciam a pessoas arrastadas.
O tsunami de honestidade também foi notícia aí no Brasil. A Ruth de Aquino, na revista Época, escreveu um belo artigo a respeito.
Aqui, o caso também foi notícia, mas pelo fato de ser uma quantidade muito grande de dinheiro. Mas não me lembro de ninguém aqui ter destacado a honestidade das pessoas que acharam essa fortuna. Não vi nenhum editorial soltando fogos por essa incrível qualidade dos japoneses. Nenhum político foi à TV para faturar em cima disso.
Honestidade no Japão não é notícia, é hábito diário. Claro que existem crimes, roubos, assassinatos, que recebem muito destaque nos jornais por fugirem da normalidade.
Pois bem, agora o caso da devolução do dinheiro voltou aos jornais por causa da repercussão no exterior. A TV Asahi, por exemplo, fez uma reportagem sobre o espanto dos estrangeiros com a honestidade dos japoneses. www.youtube.com/watch
Evidentemente, eles estão muito orgulhosos de ver o país retratado desse jeito no exterior. Aliás, os japoneses se procupam muito com o que os outros países pensam do Japão e adoram quando há notícias positivas. Estão errados? Óbvio que não.
Eu já escrevi sobre isso no blog, mas não canso de citar exemplos da honestidade, às vezes extrema, dos japoneses. Há duas semanas esqueci, no taxi, uma sombrinha, dessas que usamos aqui para nos proteger do sol escaldante do verão japonês. A sombrinha, das mais baratinhas, custou o equivalente a 18 reais e a corrida até a minha casa, o equivalente a 14 reais. O taxista só se deu conta do meu esquecimento ao retornar ao ponto de taxi, que fica no shopping. Ele não teve dúvidas, deu meia volta, veio até o meu prédio e entregou a sombrinha na portaria, sem cobrar um centavo por isso. Poderia ter cobrado os 14 reais da corrida, mas não o fez.Também já esqueci o celular e o motorista voltou quatro horas depois pedindo desculpas por ter demorado tanto e explicando que tinha pegado uma corrida para longe logo depois de ter me deixado em casa.
Quando alguém encontra algo na rua aqui, não leva para casa. Não existe o conceito de "achado não é roubado". Os japoneses pensam "o que foi perdido não me pertence". Há, inclusive, um costume muito bacana: se alguém vê algo na rua, pega o objeto e coloca com cuidado no muro mais próximo. Assim, o tal objeto não fica jogado no chão, poluindo o visual das, geralmente, impecáveis ruas japonesas. E eles sabem que os donos vão voltar para procurar o que perderam. Se estiver ali, no alto do muro, vai ser fácil enxergar. Há poucos dias, vi esse exemplo na rua onde moro e registrei na foto abaixo. Um chapéu, até bem bonitinho, foi deixado sobre uma barra de metal que demarca o limite do canteiro da rua. Milhares de pessoas passaram por ali e ninguém pegou. Quando voltei para casa, o chapéu não estava mais lá. Com toda a certeza, foi levado pelo agradecido dono. O que mais impressiona na história é que o fato só chamou a atenção da gaijin aqui, que inclusive parou para fotografar. Os japoneses que me viram fazendo isso devem ter ficado muito espantados.
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