Internautas disseram que crianças foram tratadas como 'produtos' e que evento lembrava uma "feira de adoção de animais"
Na quarta-feira (22), o evento "Adoção
na Passarela" causou comoção pelo Brasil. Em um shopping de Cuiabá,
crianças
e adolescentes de 4 a 17 anos aptos a serem adotados participam de um
desfile
. O evento foi alvo de críticas na internet, com pessoas dizendo que as
crianças "não são produtos", que "faltou bom senso" e que "parecia uma
feira de adoção de animais".
A Seccional Mato Grosso da Ordem dos Advogados do Brasil (
OAB-MT
), uma das organizadoras do evento, e Pantanal o Shopping, que sediou o
evento, emitiram notas no mesmo dia se explicando. Na manhã desta
quinta-feira (23) o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos (MDH) publicou nota de pesar condenando o desfile.
Apesar da comoção nas redes, o evento não é inédito. Esta foi a sua
segunda edição. No material de divulgação a advogada Tatiana Ramalho,
presidente da Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da OAB-MT, afirma
que o objetivo era "dar visibilidade a essas
crianças
e a esses adolescentes que estão aptos para
adoção
". Na nota de esclarecimento publicada no dia 22, a entidade explicou que "nunca foi o objetivo do evento apresentar as
crianças
e adolescentes a famílias para a concretização da
adoção
" e que "nenhuma
criança
ou adolescente foi obrigado a participar".
Já o Pantanal o Shopping afirma que "repudia a objetificação de
crianças
e adolescentes"e que o objetivo da ação era "contribuir com a promoção e conscientização sobre
adoção
e os direitos da
criança
e adolescente".
Secretaria Nacional dos Direitos da
Criança
e do Adolescente, que faz parte do MDH, manifestou "seu pesar" sobre o
evento, sem entrar em maiores detalhes sobre medidas cabíveis.
Organizadores e shopping se explicam, ministério manifesta pesar
Leia abaixo a nota do MDH na íntegra:
A Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente manifesta
seu pesar com o desfile promovido pela Comissão de Infância e Juventude
(CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil do Mato Grosso (OAB-MT), nesta
terça-feira (22).
O Estatuto da Criança e do Adolescente atribui à sociedade e ao Estado o
dever de proteger integralmente crianças e adolescentes, o que inclui a
proteção à exposição de sua identidade e as suas emoções.
O Ministério reafirma seu compromisso com a garantia dos direitos da
criança e do adolescente, dentre eles, o direito à adoção por meio de
ações que assegurem, prioritariamente, o bem-estar da criança e do
adolescente nessa situação.
Leia abaixo a nota da OAB-MT na íntegra
Diante da repercussão do evento “Adoção na Passarela”, realizado pela
Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (AMPARA) e pela
Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil –
Seccional Mato Grosso (OAB-MT), as instituições vêm a público
esclarecer que:
Nunca foi o objetivo do evento – parte integrante de uma série de outros
que compõem a “Semana da Adoção” – apresentar as crianças e
adolescentes a famílias para a concretização da adoção. A ideia da ação
visa promover a convivência social e mostrar a diversidade da construção
familiar por meio da adoção com a participação das famílias adotivas;
Nenhuma criança ou adolescente foi obrigado a participar do evento e
todos eles expressaram aos organizadores alegria com a possibilidade de
participarem de um momento como esse. A ação deu a eles a oportunidade
de, em um mundo que os trata como se invisíveis fossem, poderem integrar
uma convivência social, diretriz do Plano Nacional de Convivência
Familiar e Comunitária. Esse evento, inclusive, ocorre pela segunda vez;
Crianças e adolescentes que desfilaram o fizeram na companhia de seus
“padrinhos” ou com seus pais adotivos. A realização do evento ocorreu
sob absoluta autorização judicial conferida pelas varas da Infância e
Juventude de Cuiabá e Várzea Grande, bem como o apoio do Poder
Judiciário.
A OAB-MT e a Ampara repudiam qualquer tipo de distorção do evento
associando-o a períodos sombrios de nossa história e reitera que em
nenhum momento houve a exposição de crianças e adolescentes;
Vale destacar que o desfile foi apenas uma das ações da “Semana da
Adoção”. Ao longo dos dias do evento foram realizados também palestras,
seminários e recreação para as crianças;
A falta de interessados na chamada “adoção tardia” faz com que seja
urgente a adoção de medidas como a Semana da Adoção, que tornam público
esse problema social. Conforme o Relatório de Dados Estatísticos do
Cadastro Nacional de Adoção do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 8,7
mil crianças e adolescentes aguardam por uma família.
Na edição anterior do evento, realizado em 2016, dois adolescentes, cujo
perfil está fora dos parâmetros de preferência da fila de interessados,
foram adotados graças ao trabalho realizado, que deu visibilidade à
questão. A iniciativa tem sido tão exitosa na forma como aborda o
problema que outros Estados realizaram eventos semelhantes, como
“Esperando por você” (ES), “Adote um Pequeno Torcedor” (PE) e “Adote um
Pequeno Campeão” (MG);
Por fim, a Ampara e a OAB-MT, realizadoras do evento, agradecem a
disposição de todos os demais órgãos e entidades apoiadores, dentre eles
o Tribunal de Justiça de Mato Grosso e o Pantanal Shopping, por
entenderem a grandeza de sua finalidade e abraçarem, de forma
voluntária, a causa da adoção no Estado. Também conclamam a sociedade em
geral para uma discussão séria e efetiva sobre o tema para que mais
estratégias possam ser adotadas em prol do direito de possibilitar o
acolhimento familiar a essas crianças e esses adolescentes.
Fonte: O Globo
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