Ao consumir uma unidade da fruta
diariamente, você mantém as artérias livres de danos provocados pelo excesso de
LDL, o colesterol ruim
Apelidada de fruto proibido, ela mostra, em
laboratórios mundo afora, que proibido mesmo é deixá-la longe do cardápio. A
última prova vem da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, onde se constatou
que o consumo de uma unidade diária diminui os níveis de LDL oxidado no sangue.
E esse é aquele colesterol ruim pra valer, que todos querem varrer das artérias.
"Os compostos fenólicos da fruta parecem eliminar os radicais livres no sangue
antes que eles possam chegar ao LDL", explica Robert DiSilvestro, líder da
pesquisa.
Só para esclarecer: quando as tais moléculas de
radicais dão esse encontrão no colesterol, a partícula gordurosa se oxida e,
nesse estado oxidado, é que passa a formar placas na parede dos vasos. Cada vez
maiores, pelo acúmulo de mais e mais colesterol no local, as placas estreitam o
caminho para o sangue trafegar - congestionamento que eleva o risco de infarto
ou derrame. Nada bom.
No estudo americano, porém, os 16 participantes
que comeram uma maçã todos os dias, durante quatro semanas, ficaram menos
sujeitos a esse enrosco. É que eles viram as taxas do temido colesterol oxidado
despencar em 40%. Já nos 17 voluntários que ingeriram 194 miligramas de
polifenóis em cápsulas, a queda aconteceu, mas não foi tão impressionante.
"A vantagem da fruta é que, nela, há vários
compostos que agem em conjunto, somando ações positivas no organismo", justifica
a nutricionista Pamela Cristiani Dias Pereira, mestranda em ciências da saúde
pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Uma dessas substâncias
parceiras na batalha contra o colesterol é a pectina, uma fibra solúvel
encontrada em doses generosas na casca do fruto da macieira. É ali, aliás, que
boa parte dos seus antioxidantes fica retida - aproximadamente 50% dos compostos
fenólicos. "O resultado desse trabalho deve ser reflexo da sinergia das fibras,
como a pectina, com os polifenóis da fruta, os compostos fenólicos", arrisca a
nutricionista Laryssa Maria Mendes de Geus, professora do Centro de Ensino
Superior dos Campos Gerais (Cescage), em Ponta Grossa, no interior do
Paraná.
Olhando de perto, a combinação desses elementos
interfere em uma enzima chamada HMGCOA redutase. Não se assuste com o palavrão.
O que vale a pena saber é que ela está envolvida na oxidação. "E as substâncias
presentes na maçã diminuem sua ação", resume a nutricionista Elaine Rocha de
Pádua, da DNA Nutri, na capital paulista. Tem mais: as fibras ainda dificultam a
absorção do colesterol pelo intestino.
Em outra pesquisa da Universidade do Estado da
Flórida, nos Estados Unidos, o chega pra lá na gordura inimiga das artérias
também ficou bem evidente. É que, das 160 mulheres com idade entre 45 e 65 anos
que participaram do teste, aquelas que receberam 75 gramas de maçã desidratada
diariamente apresentaram uma queda de 23% nas taxas do LDL passados seis meses -
para ter ideia, a fruta in natura pesa em média 120 gramas. De quebra, os níveis
do tipo HDL, o aclamado bom colesterol, que conserta os estragos da versão
nefasta, subiram 4%.
"O trabalho foi realizado com um número pequeno
de voluntárias, e outros fatores que influenciam na redução de colesterol não
foram avaliados", pondera Glaucia Moraes, presidente da Sociedade de Cardiologia
do Estado do Rio de Janeiro. "Nesse grupo específico, a maçã surtiu tal efeito.
Mas é cedo para extrapolar para o restante da população", completa Maria Lúcia
Mendes Bruno, nutricionista do Instituto do Coração, o InCor, em São Paulo. Mas,
se a maçã não faz a proeza sozinha, ninguém nega que ajuda.
Cabe chamar a atenção que a versão desidratada,
como o próprio nome indica, perdeu água. "Com isso, concentra não só fibras, o
que pode ser positivo, mas também açúcar", lembra a nutricionista Elaine de
Pádua. Por isso, apesar de ser uma opção bastante prática, não deve ser a
preferida das pessoas com diabetes, já que essa turma precisa domar o sobe e
desce de glicose na corrente sanguínea.
Mas, se a sua preocupação é com o peso cravado
na balança, uma boa notícia: na investigação da Flórida, embora as maçãs
representassem um acréscimo de 240 calorias diárias à dieta das voluntárias,
ninguém acumulou quilos extras. Na verdade - olha que maravilha - elas chegaram
a emagrecer cerca de 1,5 quilo. "As fibras favorecem a saciedade e retardam o
esvaziamento intestinal. Além disso, carregam para fora do organismo parte dos
açúcares e triglicerídeos dos alimentos", diz a nutricionista Laryssa
Maria.
A maçã também pode ser uma aliada do coração de
quem convive com a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), doença que provoca
falta de ar, tosse e cansaço. É que as mesmas substâncias inflamatórias que
prejudicam os pulmões dessa gente caem no sangue, contribuindo para doenças
cardíacas. Cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade de Zhejiang, na
China, especulam que o consumo da fruta daria um alívio nesses quadros ao
combater as moléculas causadoras de inflamações.
"Tudo leva a crer que os antioxidantes da maçã
ajudem", cogita Adalberto Rubin, diretor da Sociedade Brasileira de Pneumologia
e Tisiologia (SBPT). "Mas ainda não sabemos de um alimento que comprovadamente
abrande os danos da DPOC. Em todo caso, é sempre assim que as descobertas
acontecem. Resta torcer para que esses resultados se confirmem em outras
pesquisas", diz ele. Não custa seguir o ditado: basta uma maçã por dia para
manter... Nem precisa completar, né?
Com casca e tudo
Para aproveitar o efeito anticolesterol da
maçã, o melhor é consumi-la inteira. Afinal, é na película que reveste a fruta
que encontramos a pectina, fibra solúvel que ajuda a reduzir a absorção da
substância pelo intestino. "A casca também concentra grande parte dos compostos
fenólicos do alimento", reforça a nutricionista Laryssa Maria Mendes de Geus,
professora do Cescage, em Ponta Grossa, no interior do Paraná. Só não se esqueça
de higienizá-la bem, para reduzir a quantidade de agrotóxicos.
As
variedades mais comuns
As diferenças entre as maçãs mais presentes nas
feiras e supermercados do Brasil:
Fuji - A polpa é aromática, firme e
crocante. Uma leve acidez caracteriza seu sabor, resultado de cruzamentos feitos
no Japão.
Verde - É desta cor porque não tem o
pigmento antocianina na casca. Apresenta alta acidez e baixo teor de
açúcares.
Gala - A polpa é firme e bem docinha.
Trata-se do cultivar considerado mais rico em antioxidantes
Argentina - O certo, certo seria
chamá-la de red. Sua polpa é mais esbranquiçada. Para alguns, menos atraente
para o paladar. Isso porque a maturidade não lhe cai bem: dá a impressão que
esfarela na boca.
Coma só uma. Mesmo!
Sabe aquela história de que tudo em excesso faz
mal? Pois é. Até os compostos fenólicos, grandes trunfos da maçã, viram inimigos
quando ingeridos de forma desenfreada. Isso porque, daí, em vez de combaterem os
radicais livres, eles passam a ter atividade pró-oxidante. O segredo para não
deixar seus poderes se esvaírem é se limitar a uma unidade. Se não resistir, a
cota máxima pra valer seriam três.
Fonte: Revista Saúde