Em sabatina no Grupo Estado, dissidente cubana saudou aproximação econômica das duas nações, mas disse que País precisa adotar postura mais 'enérgica' sobre violações
A blogueira cubana Yoani Sánchez cobrou nesta quinta-feira do governo brasileiro uma posição mais firme nas questões de violações dos direitos humanos em seu país, ao mesmo tempo em que saudou a aproximação econômica entre as duas nações, afirmando que ela vem ajudando os cubanos.
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"No governo Luiz Inácio Lula da Silva e agora com Dilma Rousseff, aproximou-se o vínculo entre Brasil e Havana, principalmente no plano econômico", afirmou durante sabatina promovida pelo Grupo Estado. "(Mas) falta franqueza e dureza em relação aos direitos humanos. Há muito silêncio. Sou uma diplomata do povo, mas deixo como sugestão uma posição mais enérgica."
Para uma plateia formada por intelectuais e jornalistas e em que também esteve presente o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), Yoani criticou o governo de Raúl Castro, classificando-o ideologicamente como "capitalismo de Estado".
A autora do blog "Generación Y" comparou o governo castrista com um "reino", porque Raúl não foi eleito através do voto popular, mas sim por seus laços sanguíneos com Fidel. "No século 21, é algo surpreendentemente absurdo", destacou. Apesar das reformas migratórias e econômicas promovidas em Cuba, Yoani afirmou que elas são insuficientes. "Entrar e sair do país não foi reconhecido como um direito ainda", disse. "Eles legalizaram o que já era prática corriqueira. O que eles não conseguem controlar, legalizam", completou em referência à permissão de se comprar e vender casas e carros em seu país.
Em relação ao embargo econômico americano, Yoani reiterou que, além de não funcionar, o bloqueio criou uma espécie de desculpa para as falhas do regime. "A discussão do embargo muitas vezes é uma distração. O grande problema nacional é a repressão contra o povo."
A dissidente cubana também apontou as diferenças entre os governos de Fidel Castro e de seu irmão Raúl. Para Yoani, a repressão na era Fidel era "um show" com tribunais numerosos para julgar os opositores, enquanto Raúl a pratica "para ninguém ver", sem deixar rastros.
Questionada sobre qual seria o modelo que poderia substituir eventualmente o sistema de governo de Cuba, Yoani indicou que não há enxerga um modelo pronto para o que classificou de "a Cuba futura". "Penso que a mudança em Cuba seria algo inédito."
Em relação ao futuro da ilha, a dissidente disse esperar que as mudanças profundas não viessem através da violência ou de um golpe de estado, mas através do desejo do povo cubano de que "essa situação não pode se prolongar". Ainda assim, Yoani reconheceu que há uma "apatia" muito forte presente na juventude do seu país, uma vez que o ensino, segundo ela, é ideologicamente controlado.
"É como se o país não te pertencesse. A reação que se tem é de apatia. O país não me pertence, nada vai mudar, então, para que se revoltar? Esse é o discurso de muitos jovens"
Protestos no Brasil
Em resposta às manifestações em favor do regime cubano que têm sido feitas durante sua passagem no país, Yoani citou uma frase creditada a Voltaire: "Não concordo com uma palavra do que diz, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-la." Apesar disso, ela indicou que os protestos no Brasil passaram do limite do aceitável e do pacífico por causa de alguns atos de violência. "Isso não é democracia, é fanatismo", afirmou a blogueira sob fortes aplausos.
A dissidente cubana foi alvo de protestos desde sua chegada ao Brasil. Na segunda-feira, foi recebida por manifestantes pró-Cuba nos aeroportos de Recife e Salvador. Eles gritaram palavras de ordem contra Yoani e jogaram notas falsas de dólar enquanto ela caminhava. Um dos manifestantes teria puxado seu cabelo.
Em Feira de Santana, na Bahia, mais um protesto acabou suspendendo a exibição do documentário "Conexão Cuba-Honduras", que conta com a participação da dissidente.
A União da Juventude Socialista, que organiza as manifestações em favor do regime de Raúl Castro, negou que tivesse responsabilidade pela interrupção do evento e desmentiu as alegações de agressão física.
Na quarta, a blogueira visitou o Congresso Nacional, em Brasília, onde assistiu a trechos do filme. Sua chegada provocou tumulto por causa da presença de curiosos e de jornalistas. Recebida por parlamentares, em sua maioria da oposição, presenciou mais protestos contra sua atuação contra o regime cubano. Também foi motivo de bate-boca entre os deputados, porque sua vinda interrompeu a votação de uma medida provisória na Câmara.
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