Alguns modelos causam mais danos que outros, segundo os cientistas. Mas até mesmos os ditos assentos ergonômicos para proteger os órgãos sexuais podem ser nocivos, dizem as pesquisas. Uma dúzia de estudos foi resumida em três artigos em setembro na revista "Journal of Sexual Medicine". No editorial, Steven Schrader, especialista em saúde reprodutiva que estuda o ciclismo no Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional, disse que não é mais uma questão de saber se "andar de bicicleta causa ou não disfunção erétil".Em vez disso, "a questão é 'o que vamos fazer a respeito?'"
Os estudos, de pesquisadores da Universidade de Boston e da Itália, revelaram que quanto mais uma pessoa anda de bicicleta, maior o risco de impotência ou perda de libido. Pesquisadores na Áustria concluíram que muitos praticantes de mountain bike sofrem trauma relativo ao selim, levando a pequenas calcificações dentro do bolsa escrotal.
Isso não significa que as pessoas devem parar de pedalar, disse Schrader. E as pessoas que andam de bicicleta raramente ou por curtos períodos não precisam se preocupar.
No entanto, ele disse que ciclistas que passam muitas horas pedalando por semana precisam tomar cuidado. E sugeriu que a indústria criasse assentos mais seguros e parasse de minimizar os riscos dos assentos existentes.
Um porta-voz da indústria disse que o problema é conhecido e que "novos projetos estão saindo".
"A maior parte das pessoas não pedala tempo suficiente para ter danos permanentes. Mas a primeira linha de defesa do consumidor é "sentar bem na bicicleta", disse o porta-voz, Marc Sani, que publica "Bicycle Retailer and Industry News".
Os pesquisadores estimam que 5% dos homens que andam de bicicleta desenvolvem disfunção erétil severa a moderada. Alguns especialistas acreditam, no entanto, que o número pode ser muito mais alto, pois muitos homens têm vergonha de falar a respeito ou não associam a bicicleta com seus problemas entre quatro paredes.
O elo entre os selins e a impotência foi primeiramente divulgado em 1997, quando um urologista de Boston, Irwin Goldstein, que tinha estudado o problema, afirmou que "há apenas dois tipos de ciclistas -- os impotentes e os que ficarão impotentes".
Os ciclistas ficaram revoltados e defensivos, disse ele, acrescentando: "Eles disseram que andar de bicicleta é saudável e não pode absolutamente fazer mal. Claro que a pessoa fica anestesiada, mas impotente? De forma alguma."
A indústria ouviu o apelo, disse Joshua Cohen, fisioterapeuta em Chapel Hill, Carolina do Norte e autor de "Finding the Perfect Bicycle Seat". Os fabricantes desenharam dezenas de novos assentos com recortes, divisões e acolchoamentos de gel para aliviar a pressão nas partes sensíveis do corpo.
As pesquisas também aumentaram. Desde 2000, mais de 10 estudos foram desenvolvidos usando instrumentos sofisticados para determinar exatamente o que acontece quando a anatomia humana encontra o selim da bicicleta.
A área em questão é o períneo, entre o saco escrotal e o ânus. "Quando sentamos em uma cadeira, o peso não fica no períneo", disse Schrader. "Mas quando nos sentamos em uma bicicleta, aumentamos a pressão na região" em sete vezes.
Nos homens, uma camada no períneo, chamada de canal de Alcock, contém uma artéria e um nervo que fornecem sangue e sensação ao pênis. O canal corre junto a um osso, disse Goldstein, e quando o ciclista senta-se em um selim estreito e duro, a artéria e o nervo são comprimidos. Com o tempo, uma redução do fluxo sangüíneo pode levar a um decréscimo na pressão necessária para a ereção completa.
Nas mulheres, as mesmas artérias e nervos envolvem o clitóris durante o sexo. As ciclistas não foram tão estudadas, disse Goldstein, mas provavelmente sofrem os mesmos danos.
Os pesquisadores estão usando uma variedade de métodos para estudar a compressão causada por selins diferentes. Um dos métodos recobre o selim com uma capa com 900 sensores de pressão. A distribuição do peso do ciclista então é registrada por um computador. Em outra técnica, os sensores são colocados no pênis do ciclista para medir o oxigênio vindo das artérias abaixo da pele. O fluxo sangüíneo é detectado por outros sensores que enviam um som a um Doppler.
A pesquisa mostra que quando os ciclistas sentam-se em um selim clássico, com formato de gota e nariz longo, um quarto do peso de seu corpo descansa no nariz, colocando pressão no períneo. A quantidade de oxigênio que chega ao pênis em geral cai entre 70 e 80% em três minutos.
"O sujeito pode se sentar na bicicleta, e os níveis de oxigênio no pênis caírem em 100%, mas ele não sabe", disse Cohen. "Ele se sente confortável, mas depois de meia hora fica anestesiado."
Goldstein acrescentou: "Falta de sensação no corpo é um sinal de que algo está errado."
No entanto, disse ele, pessoas que não perdem a sensação ainda assim podem desenvolver disfunção erétil temporária ou permanente. Hoje há assentos ergonômicos com divisões na parte posterior ou buracos no centro, para aliviar a pressão no períneo. Mas os estudos mostram que esses recursos tendem a piorar o problema.
Os assentos ergonômicos têm superfície menor, então o peso do ciclista recai sobre menos selim, disse Schrader. O períneo pode ser igualmente prejudicado porque suas artérias correm lateralmente e não ficam diretamente sobre os recortes. As artérias podem sofrer ainda mais pressão quando entram em contado com os lados cortados.
Géis grossos nos selins também podem aumentar a pressão no períneo, concluiu o estudo, porque o material pode migrar e formar acúmulos nos lugares errados.
Assim como muitos fumantes não desenvolvem câncer de pulmão, muitos ciclistas nunca desenvolverão impotência, disseram os cientistas. Não se sabe o que torna uma pessoa mais vulnerável do que outra. O peso parece ter importância. Ciclistas mais pesados exercem maior pressão nos assentos. Variações anatômicas também podem gerar diferenças.
Goldstein disse que freqüentemente seus pacientes ficam chocados de saber que suas pedaladas levaram à impotência. Um homem de meia idade participou de um evento especial de ciclismo em honra a um amigo e ficou impotente desde então.
Outro paciente de 28 anos apresentou fluxo de sangue no pênis com a pressão de um homem de 60 anos, disse Goldstein. Um estudante universitário que participara de competições de ciclismo não conseguia ter ereções até que uma cirurgia microvascular restaurou o fluxo de sangue ao pênis.
"Fazemos as crianças usarem capacetes e joelheiras", disse Goldstein. "Mas ninguém pensa em proteger as partes íntimas."
Schrader defende assentos sem nariz. Depois de descobrir que os selins tradicionais reduziam a qualidade de ereções em jovens policiais que fazem suas patrulhas de bicicleta, persuadiu as autoridades em várias cidades a usarem assentos sem nariz. Schrader está estudando a disfunção sexual dos policiais em seis meses.
Nunzio Lamaestra, policial de 46 anos em San Antonio, disse que gosta de seu assento de bicicleta sem nariz. "Você se acostuma a pedalar sem o nariz", disse ele. "Posso fazer tudo, até andar sem as mãos."
Fonte: UOL
Enviada por JC
Enviada por JC
Edição: F.C.
15.10.2012
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