“Onde se escondem os criminosos do regime
militar”?
Anexina Julião, Elizabeth Teixeira, Jurandir Bezerra e Agassiz Almeida
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Com a presença e representação de vultos históricos da
resistência à Ditadura de 64, como Gregório Bezerra (por seu filho Jurandir Bezerra),
Francisco Julião (por sua filha Anexina Julião), Elizabeth
Teixeira, Abelardo da Hora, ex-deputados Agassiz Almeida e Clodomir
Morais, instalou-se, há poucos dias, na av. Visconde de Suassuna 99, Boa Vista,
Recife, com mobilização de várias entidades defensoras dos direitos humanos e o
apoio do Ministério Público de Pernambuco, o Comitê pela Memória, Verdade e Justiça, visando articular respaldo
dos amplos segmentos da sociedade para a aprovação do projeto de lei em
tramitação no Congresso Nacional, cujo objetivo é a abertura dos arquivos da
repressão militar de 1964/1985.
Obedecendo a uma ampla programação, coordenada pelo vereador
Marcelo Santa Cruz e Edival Cajá, com destaque para
exibição do filme Os Trinta anos da
Anistia e execução do hino das Ligas Camponesas e, afinal, o momento mais
alto dos trabalhos: depoimentos de personalidades da contemporânea história de
resistência ao regime militar de 64, entre as quais, Elzita
Santa Cruz, em nome dos mortos desaparecidos, Alexina
Julião, Agassiz Almeida, Elizabeth Teixeira, Clodomir
Morais, Abelardo da Hora e Jurandir Bezerra.
Esta mobilização em nível nacional para a criação de Comitês da Memória, Verdade e Justiça em
vários estados do país contou, em Pernambuco, com o apoio decisivo do
Ministério Público, por seu Procurador-Geral de Justiça, Aguinaldo Fenelon de Barros, com formação desde as suas lides acadêmicas
em defesa das liberdades democráticas. A criação desses comitês visa despertar
a sociedade brasileira para o projeto de lei em tramitação no Congresso
Nacional, que cria a Comissão Nacional
da Verdade, a qual tem por finalidade a abertura dos arquivos secretos da
repressão militar.
Com o auditório do Ministério Público completamente
lotado, vários testemunhos foram ouvidos, destacadamente, com profunda emoção,
o de Alexina Julião, que relatou o longo padecimento
de seu pai pelos calabouços do regime militar e o seu exílio em vários países.
Outro depoimento pranteado com intenso sentimento de
dor foi o de Elizabeth Teixeira, causando na plateia intensa emoção. Depondo,
Agassiz Almeida relatou o seu desterro logo nos primeiros dias de abril de 1964
à ilha de Fernando de Noronha, onde se encontravam Miguel Arraes e Seixas
Dória. Com grande impacto de indignação, Agassiz externou a sua revolta em face
da conivência do Brasil com os torturadores e genocidas da ditadura militar,
cuja atitude violadora das convenções internacionais mereceu da ONU e da OEA
veemente condenação.
Há 32 anos, acentuou Agassiz Almeida, um congresso emasculado fez publicar, em 1979, uma lei a que deram o nome
de anistia.
O que se
assistiu no curso desses anos, desde a promulgação dessa caricata lei de
anistia? Um desfile da impunidade satisfeita e até agressiva.
Que
democracia excrescente!
Na elaboração
do meu livro A Ditadura dos generais, estive em vários países: Argentina, Chile
e Uruguai. Assisti a torturadores e genocidas arrastados às barras da Justiça e
condenados.
Aqui, no
Brasil, formou-se, pior do que a impunidade, um nicho do cinismo em que os
torturadores, acobertados por certo militarismo caolho e amparados em poderes
comprometidos com o que existe de mais sórdido no recente passado da nossa
história, agridem o próprio Estado Democrático de Direito.
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