BRASÍLIA - A candidatura a prefeito de Recife em outubro é um
plano quase descartado na cabeça do ministro da Integração, Fernando Bezerra
Coelho, há seis dias tentando explicar o favorecimento a Pernambuco no repasse
de verbas antienchentes. Na reunião prevista para esta segunda-feira, 9, com a
presidente Dilma Rousseff, Coelho dirá, se perguntado, que prefere continuar no
cargo de ministro responsável pela defesa civil, pela polêmica transposição do
Rio São Francisco e pelo novo programa de irrigação que o governo está para
lançar.
O encontro foi combinado em telefonema da presidente ao
ministro na sexta-feira. Bezerra Coelho passou a informação adiante no Twitter.
Ele começava dizendo no microblog: 'Muito trabalho pela frente'. O ministro
deverá ter de explicar as ações que sua pasta está elaborando para evitar
enchentes, mas terá também de falar sobre a denúncia de nepotismo publicada pelo
Estado, que criou desconforto ao governo. Mas ele não acredita que perderá o
cargo na Esplanada.
O raciocínio é reforçado pela operação deflagrada pela própria
presidente na sexta-feira, quando acionou a ministra do Planejamento, Miriam
Belchior, para defender o repasse de verbas federais para Pernambuco, Estado
governado por Eduardo Campos (PSB). O governador é padrinho político do ministro
e aliado importante não apenas pelos votos que detém no apoio ao governo no
Congresso, mas pelo peso nas articulações para 2014, ano de eleição
presidencial.
'Estão interpretando como bairrismo uma mudança de paradigma',
argumentou a ministra, defendendo a construção de barragens para impedir cheias
no Rios Una e Sirinhaém, considerada por ela uma solução 'definitiva' para as
enchentes em Pernambuco e Alagoas.
Miriam Belchior deu razão ao colega da Integração até por ter
lançado mão de uma medida provisória que autorizava gastos extras para conter
efeitos das enchentes no Sul e no Sudeste para garantir os R$ 50 milhões
necessários ao início das obras em seu Estado. 'O dinheiro não estava carimbado,
a Integração não fez nada de irregular, foi uma solução técnica', alegou a
ministra do Planejamento na sexta-feira.
Para combater a blindagem do governo a Bezerra, a oposição quer
levar o caso para a esfera jurídica. O líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres
(GO), disse que vai entrar com representação na Procuradoria-Geral da República
na terça-feira. 'O governo pode blindá-lo politicamente. Juridicamente, no
entanto, ele tem de prestar contas.'
Além disso, o favorecimento no repasse de verbas para
Pernambuco será avaliado pela Comissão de Ética Pública, ligada à Presidência da
República. A primeira reunião do ano da comissão está prevista para
fevereiro.
Domicílio. Antes de a crise na Integração estourar, os planos
de Bezerra para 2012 estavam amarrados ao calendário eleitoral. Além de cacifar
a candidatura do filho a prefeito em Petrolina, o ministro mudou o domicílio
eleitoral para Recife e colocou-se como pré-candidato na capital. Era uma
manobra para conter o apetite do PT sobre o feudo de Eduardo Campos.
Em conversa com o Estado pouco antes de a crise vir a público,
o ministro afirmou que preferia ficar no governo. Disse que a decisão dependeria
de um gesto do PT, previsto para fevereiro, no sentido de manter a aliança com o
PSB, inclusive para a sucessão presidencial de 2014. 'Acho que o PT está muito
atento de que é preciso estarmos unidos em 2012 para que não haja surpresa em
2014. Não vamos ficar sem carta para jogar o jogo, e a construção de agora gera
um compromisso em torno da reeleição da Dilma, ou se for o Lula.'
O ministro supunha que Campos é um aliado que Dilma tentaria
'prestigiar'. O desfecho da crise vai mostrar se o raciocínio de Bezerra fazia
sentido. / COLABORARAM ROSA COSTA E FELIPE RECONDO
Fonte:http://estadao.br.msn.com/ultimas-noticias/cobrado-por-dilma-ministro-da-integra%C3%A7%C3%A3o-descarta-plano-eleitoral-e-fica-no-cargo
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